Hoje comecei a ler o livro chamado “A Gruta do Sol” (
) e, logo nas primeiras páginas, encontrei um trecho que vale a pena compartilhar com vcs. Ficará um pouco extenso, mas peço para que leiam até o fim e, ao término da leitura, exponham suas opiniões quanto a essa pequena história, pois vejo diversas conclusões e lições apenas nesse trecho.
O trecho trata de uma conversa entre o menino Daniel e quem ele chama de Mãe Maria, que tinha sempre uma rosa branca enfeitando seus cabelos.
“ ... Mãe Maria me ensinou muitas coisas durante o tempo que passamos juntos. Mas existe uma lição que foi a mais importante de todas. Porque era a própria presença de minha Mãe.
A verdade.
E que verdade era essa?
Ela Explicou:
- Hum... vc gosta MT de brincar... Bem, vamos dizer que a verdade seja uma varinha de condão.
- Ah, mas eu ñ quero brincar de varinha de condão pq isso é coisa de fada, e eu ñ sou fada, sou homem!
- Certo, vc é homem. (Parou um momento. Depois perguntou, como se fosse da minha idade:) Vamos brincar de mágico?
- Opa! Posso ser o mágico?
- Vc é o mágico. Que tem uma cartola, ou capa, o que vc quiser. O que é que vc escolhe para a brincadeira?
- A capa. Aí eu Tb sou super-herói.
- Pois que seja. Uma capa.
Tudo o que a Mãe Maria explicava era assim. Era com brincadeira de modo a gente entender tudo. Olhei para ela e levei um susto.
- Mãe. A flor do seu cabelo...
- O que aconteceu com ela?
- De repente ela morreu.
- Não morreu verdadeiramente. É aí que começa a nossa brincadeira. Vamos arranjar logo a sua capa de mágico. Ou de super-herói.
Tirei a camisa e amarrei as mangas em torno do pescoço.
- Pronto.
- Mt bem, senhor mágico. – Tirando a flor de seus cabelos, entregou-me, ordenando: - Agora faça-a viver.
- Mãe!? É impossível!
- Como impossível? Vc ñ é o mágico?
- Sou, mas...
- Então!? Há um minuto ela estava viva... Eu lhe pergunto: Como é possível ela ter morrido?
- Não sei, mas olha: ela murchou. Agora está mortinha da silva.
- Mas vc é mágico e super-herói. Usa até capa. Faça a rosa viver.
- Essa rosa?
- Essa mesmíssima rosa.
Olhei desolado para o cadáver da rosa estirado em minha mão.
- Com a capa?
- É, para começar. Todo mundo começa sempre usando um objeto pensando que tudo acontece pelo objeto e ñ por si próprio. Só depois é que dispensa coisas e percebe que é o seu próprio poder que atua. Mas isso é uma segunda lição. Pode começar, Daniel.
Depositei a rosa no chão e cobri-a com a capa. Mãe Maria estava calada, atenta e seu rosto mostrava que o assunto era sério. Para agradar minha mãe, ajoelhei-me no chão e falei à rosa:
- Vive, rosinha.
Olhei mamãe. Ela ñ dizia nada.
- E agora?
- Vc já a fez viver?
- Ué, ñ sei.
- Como ñ sabe? Vc ñ está sentindo que ela está viva?
- Não... ué, ñ sei... É, eu ñ...
- Então veja se ela está viva.
Mamãe não estava se comportando como em uma brincadeira. Às vezes ela parecia mais criança do que eu. Ora, não estava vendo que isso ñ podia ser? Mas parecia tão convicta do que dizia que, de repente me arrepiei ante a possibilidade da rosa ter revivido. Devagarinho, levantei a capa. A rosa estava exatamente como eu a tinha deixado. Isto é, morta.
- Viu, mãe? Eu não disse que era impossível?
- Claro que é impossível. Se vc declarou que era impossível, é impossível e vão continuar sendo. Em nenhum momento, Daniel, vc acreditou que ela vivesse. Em nenhum momento quis que ela vivesse.
- Ah, sim, acho que agora entendi. Vamos fazer de conta. Então ta! (Cobri de novo a rosa.) Tcham, tcham, tcham, tcham – abracadabra, catapumba! E com vcs a rosa viva da minha Mãe Maria!
Descobri a rosa, morta, erguendo-a na mão como um troféu, e a entreguei à minha mãe.
- Tai. Pronto.
- Tai ñ, pronto ñ. A rosa está morta. Eu a quero viva.
- Mas vc ñ queria brincar de faz-de-conta?
- Vc pode começar pelo faz-de-conta. Afinal, o faz-de-conta é o desejo. E o desejo é necessário, é o ponto de partida, sem ele nada acontece. A gente tem que querer. Daniel, durante esse tempo em que estamos juntos...
Durante esse tempo em que estamos juntos... Foi essa a primeira vez que mamãe se referiu à nossa próxima separação; ela sabia e me preparava. Mas naquela ocaasião suas palavras me passaram despercebidas.
- ... vou lhe ensinar uma mágica espetacular, sen-sa-cio-nal!
- Êba!
- Feche os olhos.
- Pronto.
- Pense na rosa morta.
- Já pensei, dona mágica.
- Agora pense nela viva, desabrochada.
- Certo.
- Responda: como é que ela fica mais bonita – viva ou morta?
- Viva. Posso abrir os olhos?
- Ainda não. Escute o que vou lhe dizer: a beleza é a Verdade, o resto é mentira. A rosa verdadeira é a viva; qnd ela aparece morta, murcha, tristinha – ñ acredite nisso pq é só um disfarce que ela está usando. Gravou bem o que eu disse?
- Gravei.
- Compreendeu?
- Tudo.
- Então eu quero que vc prometa uma coisa: sempre que alguma coisa feia, triste, aparecer na sua frente, na hora vc vai saber que isso é só um disfarce. E aí vai ver a Verdade, que é linda, perfeita e nunca morre. Só a verdadeira identidade de todas as coisas vive para sempre. E seus olhos só vão ver o que é eterno, o que nunca morre, sempre a Verdade. Então vamos tomar esse exemplo: vc viu a rosa morta. O que é que acontece?
- Vou dizer a ela: sua bandida, bobalhona, sem-vergonha, você é uma rosa disfarçada. Porque a rosa verdadeira é a viva. Eu descobri a sua identidade secreta!
- É. Mas vc ñ pode xingar a rosa qnd ela está disfarçada. Afinal de contas ñ é a mesma rosa?
Fiz que sim com a cabeça.
- Pois então? Vc ñ acredita no disfarce pq gosta dela, ñ quer que ela se mostre feia, triste. Vc tem mt amor pela rosa. E quem ama não maltrata o seu amor. Além do mais, a rosa, na verdade, é viva e é linda.
- Ta bem. Posso abrir os olhos?
- Pode. Repetindo: vc viu a rosa morta. O que acontece então?
- Eu via a rosa morta mas não vi. Só vejo a rosa viva, que é a identidade secreta. Aí falo com ela assim: vc é a rosa mais linda do mundo. Pq é a rosa branca da minha Mãe Maria.
- Mt bem, Daniel. Agora que vc entendeu tudo, vou lhe ensinar a mágica de fazer a própria rosa tirar o disfarce e aparecer viva na sua frente.
- Tá bom.
- A mágica tem sete truques. O primeiro é querer que ela apareça viva.
- Ah, isso eu quero!
- Com toda força e fé vc quer, sabendo que a sua vontade é tão poderosa, tão poderosa, que é capaz de trazê-la a vida. Nada neste mundo pode resistir a sua vontade, que é a ordem para a rosa tirar o disfarce. E vc sabe que a ordem vai ser cumprida.
- A rosa tem que obedecer!
- Tem! Bom, segundo truque. Responda: o que é preciso para a rosa viver?
- Ela tem que ter orvalho, perfume, tem que estar assim em pezinha, olhando pro céu, desabrochada, com pétala macia, folhas verdes, um caulezinho e, como é a sua rosa, estar com enfeite no seu cabelo.
- Isso mesmo. Então, o segundo passo é pensar e tudo o que é necessário, em todos os detalhes, para a mágica dar certo; Não pode esquecer nada! Vamos fazer um teste para saber se vc compreendeu mesmo. Pense na imagem da rosa viva. Veja na sua mente a imagem completa.
Pensei. Ela estava linda, branquinha, no meio de uma luz dourada.
- A imagem está boa, nítida. Porém estão faltando dois detalhes que vc mesmo citou: as gotas de orvalho e o perfume.
Acrescentei o orvalho.
- Perfume também?
- Claro! Ela ñ tem perfume? Mentalmente sinta o perfume, a maciez das pétalas, a forma da corola, o pistilo, tudo! Nenhum detalhe, por menor que seja, pode ser esquecido. Nesse momento, você é Deus criando a rosa.
- Passemos agora para o terceiro truque, que é o amor. Somente pelo amor vc adquire o direito de chamá-la à vida, e somente pelo amor ela é capaz de responder. Amor é o que atrai e dá ligadura; une. Olhe para a rosa. Parece morta, ñ é?
- É.
- Mas o que é a morte? O que aconteceu para que ela morresse?
- A vida fugiu dela.
- Exatamente! E a força que faz a vida fugir de uma forma se chama misericórdia. Misericórdia afasta, dissolve, manda embora. Amor é o contrário: une, chama de volta, liga e religa. Qnd verdadeiramente amar essa rosa, vc vai fazer com que toda a vida que fugiu dela retorne. Através do amor pode mantê-la viva eternamente e junto de vc. É o cimento da criação que nada nem ninguém consegue romper.
- Nenhuma broca , né, Mãe Maria?
- Nenhuma. Quarto truque: ñ deixar nenhum outro pensamento entrar em sua mente enquanto estiver fazendo a mágica. Nenhuma dúvida, nenhum pensamento, ñ pense em mim nessa hora, em nada e em ninguém: apenas na rosa. Não comente com ninguém sobre esta mágica para não sofrer influências externas. Proteja a imagem da rosa viva de toda e qualquer contaminação.
- Entendi.
- Quinto truque: reconhecer a vida da rosa como uma única Verdade. As aparências não existem, são ilusão. A morte não existe. Existe vida, eternidade, identidade secreta, perfeição. Concentre-se nessa verdade, cada vez mais fundo.
- Sim.
- Sexto truque: fazer a mágica rimadamente, quer dizer, todo dia em hora marcada. Qnd acordar, às nove da manhã, Às três da tarde, às seis e antes de dormir, por exemplo. É o dever de casa que vc vai fazer na hora certinha. E o sétimo e último truque é sentir muita paz, que é a certeza da realização. É saber que ela está viva embora ainda não possa vê-la pq ainda não se manifestou em seu plano. Deixe explodir a felicidade pela vida que pulsa na rosa. Enfim, quando sentir o clímax desse sentimento de paz, então solte essa paz no ar e esqueça a mágica; não pense mais nela. Só volte a praticá-la na próxima hora determinada. E essa é a mágica para fazer a rosa tirar o disfarce. É o plano infalível.
- Só isso?
Mãe Maria riu.
...”
Bem, como eu disse, o trecho é longo... Contudo não mostra apenas os princípios básicos de se realizar uma mágica, mas de encarar a vida. E vc? O que acha?